quarta-feira, 16 de junho de 2010

hoje fez-se luz

Hoje foi um dos dias nos quais aprendi mais em relação aos dez últimos anos da minha vida, e talvez até em relação a toda a minha vida.
Os meus pais sempre me deram uma boa educação. A melhor que me sabiam dar. E aos doze anos eu era uma pessoa relativamente madura para a idade, com os meus defeitos, mas com um nível de desenvolvimento intelectual e Humano que em muitas coisas me fazem pensar que foi, certamente, um dos pontos mais altos da minha vida. Mas que também deixavam a desejar em alguns aspectos. Afinal de contas tinha só 12 anos.
Mas aos doze anos, eu tive oportunidade de concretizar um dos maiores sonhos de toda a minha vida estudar musica. E aos doze anos, fui estudar para uma escola que tinha um nível de exigência muito elevado para com os alunos. E ainda bem que andei naquela escola porque foi lá que aprendi que na vida só conseguimos atingir algum desenvolvimento se batalharmos muito e lutarmos muito com todos e meios que temos ao nosso alcance para chegarmos aonde queremos a nível de desenvolvimento Humano e pessoal. No primeiro ano de aulas que tive, tive um nível de desenvolvimento e de aprendizagem de facto muito bons. Foi o meu melhor ano naquela escola. Mas a meio ano do ano, talvez por ser demasiado ansioso e por ter dificuldade adaptativa, entrei em depressão ansiosa e em esgotamento nervoso. Apesar de não se terem resolvido, terem continuado, e eu ter acabo por me tornar bipolar (se é que já não era).
Mas durante bastante tempo escudei-me bastante no facto de ser bipolar como base para me defender de todos os erros que cometia. Se cometia algum erro, havia sempre uma justificação que era esta pequena mas insignificante limitação que eu tenho. E que não passa de uma limitação como outra qualquer. E mais grave do que isso comecei a transferir para os outros a razão do meu insucesso. Quando eu sou a própria razão do meu insucesso. Se eu tive insucesso em toda a minha vida, isso foi porque não fui mais exigente comigo próprio e não lutei tanto quanto podia para chegar onde de facto queria.
Ou seja, atingi um nível elevado de desenvolvimento intelectual e motor, mas tudo o resto ficou muito aquém daquilo que era suposto e que de facto que me foi frisado por um amigo meu, psicólogo mas actualmente colega de curso, e acima de tudo amigo (aliás ele és um dos melhores amigos que alguma vez tive, e não me importo de dizer e de repetir isto vezes sem conta, apesar de toda a minha vida ter tido muita sorte com as pessoas que tive oportunidade de conhecer e que me deram e ajudaram a conseguir tudo aquilo que sou hoje em dia - todas sem excepção, uma vez que até com um imbecil podemos aprender sabedoria, tal como dizia aristófanes).
Ou seja, não estava a seguir a velha norma do facto de que apenas no momento em que rejeitamos toda a ajuda que nos é dada é que nos tornamos livres. Não no sentido de fazermos como muitas pessoas fazem e se segregarem da sociedade. Mas de aprender à custa dos nossos erros, coisa que durante muito tempo não aprendi. E não aprendi pelos simples factos presentes no parágrafo anterior. Quando fui tocar este ano ao sxsw com uma banda com quem estou a tocar, o lemmy dos motorhead disse qualquer coisa do género, cometam erros mas aprendam às vossas custas. Algo que o mário barreiros um professor meu, também me tinha dito no inicio do ano, depois de nos aconselhar acerca dos erros que cometeu no percurso dele. Uma atitude que eu acho digna e de louvar. E algo que um amigo meu, o carlos santos, meu colega na esart, me disse também muitas vezes.
E cheguei a um ponto em que me virei inclusive para a minha professora de viola numa altura em que me estava a tentar re-aproximar dela porque senti que ia ter necessidade de voltar a investir a serio no instrumento e lhe disse que a razão do meu insucesso encontrava-se tanto nas minhas mãos como nas mãos dela. Mas a parte dela podia ser justificada com a pressão da escola. E ela ficou muito, mas mesmo muito sentida com aquilo que eu lhe disse. E com razão. Porque eu provavelmente teria ficado magoado de igual modo com uma situação idêntica. Mas provavelmente teria facilidade em ser tolerante. Porque tento ser tolerante comigo próprio. Quando cometo erros. Às vezes demais e de forma errada. E a minha professora não era obrigada a tolerar todos os erros que eu cometo. E pensava que era no sentido de aprender com eles. Mas de facto houve muita coisa que esteve na base de eu não aprender tanto como poderia ter aprendido. E passado duas semanas fiz o mesmo com os meus três professores de disciplinas específicas do curso. No sentido em que falei com uma pessoa do meio, a dizer-lhe que estava a por a hipótese de mudar de escola. Na altura estava a tentar fugir aos meus problemas. E ainda bem que essa pessoa me chamou a devida atenção para isso e que eu fui capaz de admitir os pontos em que tinha falhado e que os meus professores não tinham culpa de nada daquilo. Mas mais uma vez nessa altura não aprendi com os erros. E tive de voltar a pedir desculpa. Por um erro que tinha cometido recentemente. E hoje, quando estava na aula com um professor com o qual a minha relação nunca foi fácil, sobretudo por minha causa e por causa das minhas atitudes, de não compreender que toda a gente tem defeitos e que não podemos culpar as pessoas pelo nosso insucesso, ai fez-se luz. Fez-se luz porque ele me disse de repente que não ia ser mais nosso professor, mas que estava satisfeito com os nossos progressos.
E foi nesse momento que eu percebi. Bem eu podia ter evoluído muito mais, como qualquer pessoa pensaria numa situação idêntica. Mas não evolui mais por duas razões muito simples: tenho facilidade em escudar-me nas minhas limitações e em transferir para os outros a razão do meu insucesso. E também sou muito impulsivo, pouco premeditado, e muito insensato. Não no sentido de ser egocêntrico intencionalmente. porque retoricamente tento a ser muito altruísta, mas não sou tão altruísta como podia ser, porque sou muito impulsivo, não penso nas consequências dos meus erros para com as outras pessoas. E depois entro em ruptura comigo mesmo no sentido de me perder, e de começar a transferir para os outros o meu insucesso, e a aceitar-me como sou mas duma maneira errada, no sentido de tolerar as minhas falhas com os meus erros. E não trabalhar tanto quanto podia. Porque essa é a única e verdadeira razão de eu não chegar mais longe.
Ou seja, às vezes há pequenas falhas em pequenas situações que se não forem resolvidas no momento preciso nos impedem de chegar tão longe quanto poderíamos eventualmente.
Ou seja, sempre quis evoluir como profissional e como pessoa, mas durante muito tempo não consegui ter a noção disso. Não foi por falta de aviso que não cheguei lá. Foi, sobretudo, por falta de experiência de erro. Só depois de cometermos muitos erros e que vamos aprender e conseguir voar.
Depois houve outra coisa muito importante sobre a qual falei com uma pessoa hoje. E que tem a ver com o relativismo. Mas também com o sermos capazes de ver as coisas livres de preconceitos. Que é algo que nunca deixamos de conseguir porque o ser Humano é, por natureza dogmático. A negação do dogma, implica um dogma. No entanto os dogmas limitam-nos e impedem-nos de evoluir, quando os temos como absolutos.
Que é o facto de na música existirem sempre uma multiplicidade de factores que entram em jogo na nossa avaliação da musica. Dogmas, mais uma vez. Mas se não soubermos relativizar as coisas tornarmo-nos limitados (hell yeah einstein mother fucker E=MC2). Ou seja, havia atitude em mim no que estava em cima, que eram dogmáticas por natureza. porque me impediam de ver a luz. Ou seja. eu posso julgar a musica de diferentes prismas. Estéticos, ideológicos, técnicos, paradigmáticos, etc. Mas o único factor que é importante na música é o esta comunicar ou não com quem a ouve. E isso foi algo que o joão soeiro de carvalho me ensinou. e foi a única coisa que eu aprendi com ele. Porque nas outras aulas, estava a ler artigos sobre pessoas a pensar sobre coisas que eram para ser relativizadas e auto-questionadas. E quando uma pessoa não pensa nos problemas por si mesma e tenta arranjar respostas para os mesmos também não evolui. Ou seja, a maneira como se ensina musicologia, podia ser em muitas vezes melhor. Porque as pessoas podiam pensar mais sobre musica, em vez de empinar o que outros já escreveram sem pensar no assunto. E é isso que eu tenho a ganhar com as pessoas com quem estou a estudar neste momento. Ou seja, deve-se levar as pessoas a questionarem-se sobre as coisas e dar-se uma referencia bibliográfica no inicio e no final do semestre, que muitas vezes pode e deve ser omitida, para que a pessoa se questione verdadeiramente acerca das coisas.
Ah, e depois há uma coisa que também é muito importante. Que é um video que me mostraram hoje no youtube, nomeadamente um video sobre o manafon do david sylvian, em que os músicos são entrevistados. E que me levou a pensar sobre o facto de que, basicamente, uma pessoa pode perceber o que é a pessoa que conhecemos, pelo modo como ela fala. Era o fennesz que dizia isso. Ou seja, se uma pessoa tem um discurso muito ego-maniaco, tipo eu, que não cultivo a minha personalidade porque sou humilde o suficiente para reconhecer as minhas limitações mas tenho por vezes entraves sérias no meu desenvolvimento. Mas estou sempre a falar, e não no sentido de querer dominar uma conversa, mas no sentido de não me conseguir conter. E no mia (festival de musica improvisada de atouguia da balei, fizeram-me começar de repente a ouvir as outras pessoas, mas aos poucos sinto que estou a perder isso novamente, porque estou sempre a pensar no que vou dizer a seguir, e não consigo controlar isso). Ou seja devo ser auto-analitico e auto-critico em relação como falo com as outras pessoas, e usar mecanismos como a expressão facial das pessoas a nível de resposta para perceber se estou ou nao errado. E o mário barreiros tinha razão naquilo que disse no inicio do ano uma pessoa deve ser espontânea - mas também premeditada. E eu posso muito bem estar a ter aulas com o melhor produtor português de sempre. Apesar de ser péssimo produtor, uma vêz que me preocupo muito mais em composição e improvisação e no modo como a electrónica pode expandir as possibilidades de instrumentos acústicos do que em produzir musica. Apesar de o pouco que aprendi de produção na esart. pouco mais uma vez porque devia ter estudado muito mais e ouvido mais as pessoas me ajudar a conseguir melhor som nas coisas que faço. aprendi certamente mais com ele como pessoa.. as nota são importantes como dizem os nossos professores. mas há coisa mais improtantes.. e o mais importante é o todo.. algo que me foi frisado pelo rui eduardo paes no mia. as experiencias que temos e tudo o que está relacionado com as mesmas., tudo e todo aquilo que.

A todas as pessoas que sempre estiveram do meu lado e me ajudaram a crescer até hoje o meu obrigado. espero um dia vir a conseguir retribuir tudo o que fizeram por mim por uma efectivação da qualidade do meu trabalho e do meu carácter como pessoa.

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