domingo, 2 de maio de 2010

mundos e mundos

fernando pessoa dizia que a maior prova de se conseguir ser livre é conseguir-se enfrentar a solidão. não sou apologista da solidão como forma de estar na vida. no entanto sei que estar-se isolado do mundo, de tudo e de todos pode, por vezes, ser uma maneira de pormos cá fora coisas que de outro modo não conseguiria-mos por porque podemos usar a nossa imaginação e o nosso potencial criativo como forma de projectar-mos aquilo que somos e, de algum modo, de ajudarmos outras pessoas através daquilo que fazemos; ou também de nos reconciliar-mos, em certos momentos, conosco próprios e com o mundo. Mas quando a solidão se torna num processo auto-destrutivo, por sermos incapazes de gerir o nosso próprio mundo e aquilo que temos cá dentro e de repente sentirmos que os nossos desejos mais profundos se tornam nos nossos maiores inimigos, assim como aquilo que é o nosso mundo entrar em ruptura conosco, fazendo-nos escravos de nós mesmos, de repente sentimos que tudo e todos estão contra nós quando na verdade isso é algo que apenas se encontra na nossa imaginação, mas que acaba por se tornar uma realidade, por interferir no modo como nos relacionamos com outras pessoas, e como destruimos as nossas relações pessoais ao ponto de estarmos verdadeiramente sós, abandonados e entregues a nós mesmos e à nossa mente, e não conseguimos verbalizar, jamais, aquilo que se passa conosco, desde estados de profundos de sofrimento, a estados de felicidade extrema, a sonhos e ideais, etc., acabando-se isto tudo por se tornar numa amálgama que nos corrompe, sentimo-nos confusos, e tudo se torna mais difícil e mais complicado de gerir. porque se é mal interpretado, e não se consegue pensar no outro(a), neste caso em alguém que nos é próximo(a), independentemente de essa pessoa ser um conhecido, um estranho; um colega ou um amigo; um familiar ou alguém de quem gostamos muito. ou melhor até pensamos, é-se ou tenta-se ser humilde, só que estamos tão metidos conosco mesmos que por muito altruísta que se tente ser, no sentido de se por os outros como motivação para desenvolvermos o nosso trabalho e para sermos melhores a cada dia que passa como pessoas, para podermos contribuir com aquilo que fazemos, para a evolução da espécie, acabamos sempre por cometer os mesmos erros. as pessoas ficam magoadas conosco, e estamos sozinhos. e nisto somos escravos de nós mesmos. escravos de algo que projectámos para o nosso futuro e do nosso mundo mas que não faz mais do que nos corromper, de nos destruir e de destruir quem está à nossa volta e gosta de nós.

1 comentário:

tiago morgado disse...

do caos nasce a ordem