sexta-feira, 10 de setembro de 2010

8/9/10

Hoje estava numa galeria. Uma galeria no interior de mim mesmo. Paredes pálidas, brancas como o cal, ecoavam luzes cintilantes dos projectores montados ao correr das paredes, do tecto. Num gesto cego, aproximo-me de uma sala.

- "Uma sala que se encontrava vazia." - pensei eu inicialmente, incrédulo, para comigo mesmo.

Até que num impasse focalizei toda a minha concentração, toda a minha energia num ponto específico da sala. E vislumbrei uma partícula, um átomo. Um átomo é vislumbrado por mim, e vislumbra-me.

- "Persegues-me?" - perguntei ao átomo.

Sensações familiares,
palpitações frenéticas,
o bater do coração incendia,
chamas vigentes

do expoente do poente
do poente do expoente.
do expoente do expoente
e de poente do poente.

do finito do infinito
do infinito do finito.
do finito do finito
e do infinito do infinito.

Pareceu-me de repente sentir a tua presença. A presença de um espectro. Daquilo que és foste e será na minha memória. Porque o passado já foi e o futuro virá. Resta-nos o presente, a sede procura, da procura de sede, pela perfeição que não existe. Ou talvez exista, utopicamente.

E neste gesto frenético toco o átomo e deixo-me levar. O meu corpo deixa-se levar até ti. Que não estás presente no meu quarto onde me encontro a escrever este texto, sem saber muito bem aonde quero chegar. Porque vida é feita de certezas e incertezas. Podemos traçar um rumo mas a imprevisibilidade está-nos sempre a surpreender. E quando nos surpreende somos por vezes somos obrigados a agir com espontaneidade e forçados a mudar de rumo.

E ao deixar-me levar pelo átomo sinto-me, de repente, espontânea e deliberadamente emergido. Emergido numa paisagem que mais me parecia saída de um quadro impressionista. E que me sugeria imediatamente o prelúdio à cesta de um fauno de claude debussy. O solo de flauta inicial ouve-se de repente. Aqueles primeiro compassos caminhavam transformando-se e transmutando-se em nuvens sonoras que mais pareciam ter saído de um casamento de metastasis de inanis xenakis com o preludio de debussy. Não que fosse necessariamente denso, carregado e pesado.

E de repente uma paisagem etérea irradia o sol. Nuvens cinzentas carregadas cobrem o sol. Tu estás presente, mas ausente. Em budapeste talvez. E talvez a paisagem onde estou tenha sido pintada algures na Hungria, ou talvez não. Por agora acredito que sim, com uma incerteza evidente.Tons de verde, cinzento e castanho fundem-se na vegetação, Casas fundem-se com a floresta. Um cisne encontra-se no meio de um rio, em redor de canoas. Crianças brincam com os pais na margem do rio. Sinos de uma catedral gótica acompanham as nuvens da flauta.

E nisto sinto-me cada vez mais próximo de ti. E encontro-te algures. Em fracções de segundo movo-me ao sabor do vento até ti. E encontro-te. Ali te encontravas. Á minha frente. E eu distante a viver um sonho. Um sonho do momento presente. Do sofrimento da ausência. E da ausência do sofrimento. Do sofrimento do sofrimento. E da ausência da ausência. Num instante toco-te, sinto-te, abraço-te, mas tu não sentes. Porque eu sou um espectro que voa pelo ar. E de repente o vento intensifica-se. Uma brisa suave, dá lugar a um vento que sugere um outono tardio.

E sou levado para longe de ti. Volto à galeria do interior de mim mesmo. De repente as luzes intensificam-se cegando-me completamente. De repente volto a ver. E estou por mim deitado na minha cama em frente ao computador. mal apoiado numa almofada. Com umas dores de pescoço horríveis.

E acordo dum sonho
E de um sonho desperto.

Dou por mim distante de ti.
Mas sinto-te em mim.
E em mim te sinto.

Porque estás comigo no meu corpo,
na minha memória.

Na presença,
na ausência.

Amo-te perdidamente sara rita da silva brandão machado.
Tenho saudades de ti. A saudade intensifica-se. Mas estás presente em mim mesmo.

Porque enquanto o amor não morre resiste ao tempo e à distãncia

Ao poente do expoente
e ao expoente do poente
Ao poente do poente
e aos expoente do expoente.

Ao finito do infinito
E ao infinito do finito
Ao finito do finito
E ao infinito do infinito

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